domingo, 4 de outubro de 2009

A sala do racional












POEMA
Em redondo

Por vezes,gostaria poder escolher
Tracei vagamente aquela circunferência
Passei novamente, para novamente a marcar.
Som hipnotizador entrando, consumindo.
Lá estava ela a pentear os cabelos da outra.
Sentada mostrando o seu vestido pesado e dourado.
O som continuava a insistir.
Continuava a penteá-la.
O vestido estava agora de outra cor, verde água.
Tudo continuava o redondo.


Em quadrado

Que quadrado, gosto sim.
Nele revejo alguém.
Passava nele a mão mágica e dava a luz.
O que ele queria era ser brilhante
Respondia de forma kitch.
Sempre de orelha e olhos colados.
Num dos cantos procurava-se a verdade.
Um homem amarelo tinha acabado de dar um passo gigante.
Um homem vermelho tinha acabado.
Sim acabado.
Numa espécie de quadrado.


Em triângulo

Recuperei do que tinha acontecido.
Fatal, teria sido.
Aquelas línguas ponteagudas estremeciam
A flor apareceu naquele enquadramento clássico.
Os peões do jogo de xadrez estavam na defesa.
No deserto se colocava pedras umas em cima de outras.
Ângulos mortífores, lanças bárbaras, selvagens.
A manifestar-se continuava o triângulo.


Pedro Ferreira

A sala sentimental





POEMA

Duas formas para diversos
1_
Penetrei num sono profundo.
O espelho erguido mostrava quem eu era.
A minha volta ainda tudo rodava.
Subia degraus, sonhava com um perfil feminino.
Vinha-me à memória coroas.
Tudo uma sensação estranha de estar.

2_
Sentia um respirar forte.
Sentia-me estar a perder.
Estava a ser observado, estava a ser fixado.
Por aquela janela sabia que iria sair, fugir.
Não conseguia retirar o olhar daquele ponto negro.
A mão agarrava algo de suspeito.

3_
Estava pronto para uma noite bem passada.
A minha miúda estava linda.
Estava com um discurso todo floreado.
Tanta coisa que sabia que ia acontecer.
Apareceu um boneco cabeça de Mickey.
A partir daí tudo estava mal.

4_
Estava num momento pensativo.
Tudo a minha volta estava calmo.
O perfume a flor fazia-se sentir.
De joelhos e mãos no ar, a semelhança de um quadro de Goya.
Ouvia continuadamente um fado.
A pistola é um dourado.

5_
Estava com o cérebro cheio.
O regresso a natureza fazia bem.
As raizes estavam novamente a se adaptar.
Sabia que ali perdia, que morria.
Embora me sentisse bem.
Não sabia o que fazer? Sair? Ficar?

6_
Um cavalo escondido por ser lento.
Um sorriso,um belo de um sorriso.
Um nível sensorial electrónico.
Consumido pelo pixel.
Programado para satisfazer.
Máquina sem gosto para amar.

7_
Numa torre ouvia-se um cintilar de um sino.
O caminho era cansativo com vários obstáculos.
Uma paisagem criada,sonhada,feita,refeita.
No meio parei e gritei,quem sou eu?
O eco calava-se.
Pelo não sentido da situação, eu parava.

8_
Presa na mão, presa na teia.
Um corpo dado ao observador, acto voyeurista?
Passagens para outros níveis.
Jogos de sedução, de prazer.
Orgãos sexuais, visíveis, invisíveis.
Clássico? Erótico? Normal?

9_
Estava para pendurar o casaco.
De uma porta aberta saía um volume de caixas.
O cortinado revela um palco, onde poderia estar.
Grandes quantidades de folia.
Cansado do silêncio sem frenesim.
A igualdade não é bem verdade.

10_
O coração batia, está pendurado por um fio.
Um rosto aparecia, uma figura se revelava.
Fazia-se ouvir o som de tambores.
Riscas em todos os lados.
Pérolas das ilhas.
Profundo cheira a cloro.

11_
Uma mão apareceu do vazio.
Estava se a pensar uma forma de ali fugir.
Sentado em frente ao outro e silêncio.
Erguia-se uma pessoa.
Sem expressão, sem nada a dizer.
Era um paspalho, assim concluí eu.

12_
Van Gogh estava por lá.
Madame “Nez casser” estava por sua vez também ela presente.
O Sr.boneco preto aqui branco constava.
Tratava-se de uma “passerelle” .
Muito “glamour”, muito de” je ne sais quoi”
Tudo bem apresentado,representado.

13_
Uma simetria ordenava o caos
As pessoas olhavam para as coisas
O fim estava bem perto.
Os peixes por sua vez simetria mostravam.
O avião de condutor louco pousou
A calma voltava de novo.

Pedro Ferreir
a

A sala do sentimental ; A sala do racional

texto de apresentação

O trabalho que pretendo mostrar nesta exposição vai de encontro ao que tenho vindo a desenvolver. O meu trabalho baseia-se em questões de identidade, auto-retrato,e noutro sentido em questões relacionadas com o lado racional e por outro o lado sentimental.Depois é ligado também em outras questões relativamente a cada exposição.
Penso o “ser perfeito” um equilíbrio dos dois respectivos lados, racional /sentimental, e isso tem sido uma procura pessoal em cada exposição que faça.
Tendo aqui duas salas, lado a lado e semelhantes, vou assumir de uma forma directa essa dualidade. Chamando uma de sala do sentimental e a outra de sala do racional, com placa a entrada das respectivas salas com placas semelhantes as que se encontra em hospitais. Nestas salas vou pôr em aberto por diferentes meios, desenho, pintura, vídeo, fotografia e objectos imagens artigos recolhidos,fazer passar a mensagem e pondo em questão o que nós podemos ser e por outro lado mais introspectivo e na continuação do meu trabalho de auto-retrato do quem sou eu?
Por outro lado por estar neste local, um hospital de doentes mentais. Fiz pesquisa ao encontro do doente mental e os seus comportamentos. Aqui está o lado mais específico a tratar nesta exposição.
Ultimamente a performance, como atitude, como posição, em que eu como objecto de estudo tem me interessado. Na exposição “Situação Pumk”, ter sido o rei leão mas que queria ser um robot que mostrava sentimentos. No projecto do vídeo “ Como ser um muito bom artista” pondo em questão o artista. O outro projecto para a Casa Fernando Pessoa, “Pedro Ferreira, outro semi-heterónimo escondido de Fernando Pessoa”.
Neste seguimento e por achar cada vez mais importante e desafiante a minha participação, na inauguração desta exposição, irei ter comigo dois eu fantoches um cada mão a responder cada um da sua forma consoante o decorrer da situação.